Você comeria alimento irradiado?

A ideia de consumir um alimento que foi irradiado infelizmente está associado à ingestão de alimento radioativo, em função dos aspectos negativos associados às tecnologias relacionadas à energia nuclear e o uso das radiações, como as bombas atômicas e acidentes radioativos. Mas, dê uma chance para esta tecnologia que usa radiação para melhorar os alimentos, pois ela pode ajudar até a combater a fome.

A irradiação de alimentos é usada há mais de um século. Em 1905 os britânicos registraram a primeira patente relacionada a irradiação de alimentos, evidenciando os benefícios agregados do alimento irradiado, como a eliminação de insetos e pragas. Em 1930 é a vez dos franceses, com o registro da patente utilizando raios X para eliminar bactérias em alimentos embalados, visto que é o método que preserva e retarda sua deterioração, o que na prática trata-se de um benefício tanto para os produtores como comerciantes, bem como para consumidores, em função da possibilidade de estender sua vida de prateleira.

A partir de 1950 as pesquisas se intensificam nos EUA, Inglaterra, Bélgica e Canadá o que leva, na década seguinte, a Food and Drug Administration (FDA) autorizar o emprego da irradiação de alimentos. Em 1970 a NASA adota a irradiação de carnes para o consumo no espaço. Um marco importante ocorre em 1980 quando se estabelece que a dose de radiação de até 10kGy nos alimentos não representa nenhum risco a saúde. Assim, em 1983 são estabelecidos pela Codex Alimentarius Commission, composta na época por representantes de 130 países (incluindo o Brasil), os primeiros normativos, isto é, os padrões mundiais para a irradiação de alimentos.  A continuidade desses estudos também mostrou que, a irradiação não pode ser utilizada em todos os tipos de alimentos. Por exemplo, em alimentos com alto teor de gorduras há alteração do sabor

Avalie como a irradiação de alimentos pode ser eficaz para preservação dos alimentos.

ENTENDA PORQUE O ALIMENTO IRRADIADO NÃO FICA RADIOATIVO

O alimento irradiado não fica radioativo, pois a intensidade da radiação usada é muito baixa. Como analogia, imagine um banho de sol: o corpo recebe radiação do sol, mas não fica radioativo. Isto ocorre porque a radiação (que carrega energia) é muito fraca para causar danos ao corpo, mas ela pode trazer benefícios como a produção de vitamina D, que é fundamental para saúde de nossos ossos. Entretanto deve – se evitar raios solares mais intensos que produzem efeitos prejudiciais, como o câncer de pele. Da mesma forma, durante a irradiação do alimento, a radiação quando atravessa o alimento precisa ser controlada para não danificar o alimento e sim associar benefícios. Por exemplo, a radiação, quando devidamente dimensionada, destrói o DNA de algumas bactérias e parasitas presentes no alimento, além disso, pode também ser utilizada para irradiação de sementes que se tornam mais resistentes a pragas e, em ambos os casos, diminuem o uso de defensivos agrícolas nas lavouras.

Mas, há muitos outros benéficos associados à irradiação de alimentos, tais como: a capacidade de desinfetar e higienizar o alimento, de inibir seu brotamento e de atrasar o seu amadurecimento (o alimento dura mais). Além disso, o alimento pode ser consumido imediatamente após a irradiação.

Embora a irradiação de alimento possa causar perda de micro e macro nutrientes, ela é insignificante. Essa perda de nutrientes também ocorre quando se utiliza a tecnologia de congelamento, a qual causa perda da cor e não permite seu consumo de imediato. Importante ressaltar que todas as formas de processamento de alimentos, como o cozimento, o congelamento, o enlatamento, a irradiação e, até mesmo, a estocagem causam perdas de alguns nutrientes. Quanto às desvantagens, um aspecto que compromete sua ampla utilização é o alto custo das instalações e a necessidade de treinamento específico, mas existe ainda a imagem negativa associada a esta tecnologia o que requer mais esclarecimento para população.

PANORAMA ATUAL

A irradiação de alimentos já foi aprovada em 55 países para mais de 35 alimentos. Dentre os países que adotaram amplamente esta tecnologia, tem-se a China que possui da ordem de 70 instalações e irradiam especiarias, vegetais frescos e secos, frutas e carnes, seguida por EUA com 50 instalações utilizadas para irradiar especiarias, frutas, carnes, frutos do mar e ração animal. O Brasil já faz uso desta tecnologia há décadas, há mais de 50 anos. As primeiras pesquisas foram feitas no Centro de Energia Nuclear na Agricultura (CENA), em Piracicaba (SP).

O Brasil é um país de amplo desenvolvimento agrícola, pois tem mais de 20% de aguas doces e 25 % de terras agrícolas. A perda na produção de alimentos (frutas e verduras) pode chegar a 30% em algumas lavouras. O uso da irradiação de alimentos pode melhorar sua produtividade agrícola, principalmente se os irradiadores forem instalados próximo ao produtor.

Fontes

Abrafrutas – Irradiação de alimentos pode garantir mais qualidade às exportações brasileiras

Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor) – Irradiação: importante, mas ignorada

Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) – consumo de alimentos

Cattaruzzi, E.B. Análise sobre a predisposição do consumido em arcar com o custo do alimento processado por radiação ionizante. 110p.  Instituto de Pesquisa Energéticas e Nucleares, 2012.Daniel, D.B. Uso da irradiação na indústria de alimentos. 32p. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sudeste de Minas Gerais– Campus Rio Pomba, Rio Pomba, 2016.

2 comentários em “Você comeria alimento irradiado?

  1. Vitor Responder

    O site está muito bem organizado e s informações estão bem dispostas. Muito bom ter os links ao lado para levar a outras páginas e as referencias embaixo. Uma dica só seria na parte de design que seria diminuir o espaço entre o logo e o menu (header).

    • Dalton Giovanni Responder

      Olá Vitor! Muito obrigado por sua sugestão. Iremos avaliar em equipe e procurar melhorar sempre. Um abraço!
      Equipe JC.

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